Homossexualidade e as forças armadas - o que está realmente em jogo?

Albert Mohler, presidente do Seminário Teológico Batista do Sul

7 de junho de 2010 (AlbertMohler.com/Notícias Pró-Família) — Prepare-se. Grandes mudanças estão vindo para as forças armadas dos Estados Unidos. O Congresso parece estar a ponto de aprovar um projeto de lei que exigirá a eliminação de política “Não pergunte, não diga”, em vigor desde 1993, [a qual proíbe homossexuais de se assumirem nas forças armadas]. Com o apoio do governo de Obama, e com maiorias democratas em ambas as casas do Congresso, parece que a normalização oficial do homossexualismo dentro das forças armadas dos EUA poderá ocorrer a qualquer momento neste verão, depois que o Pentágono finalizar sua análise.
Na quinta-feira passada, a Câmara dos Deputados votou 234 a 194 para anular a política. Naquele mesmo dia, a Comissão de Serviços Armados do Senado votou 16 a 12 para mudar a política. Espera-se neste mês uma votação no plenário do Senado.
Exonerações das forças armadas dos EUA por atividade homossexual datam desde a Guerra Revolucionária, e até 1993 o serviço militar operava sob uma política que identificava a homossexualidade como “incompatível com o serviço militar”.
“Não pergunte, não diga” era uma política de concessão que entrou em vigor depois que o presidente recém eleito Bill Clinton não conseguiu persuadir o Congresso e o comando militar a eliminar as restrições ao serviço de homossexuais nas forças armadas. De acordo com a política, os soldados não seriam indagados sobre sua orientação sexual, mas se uma orientação sexual se tornasse uma questão conhecida, o indivíduo poderia ser exonerado das forças armadas. Desde 1993, os ativistas homossexuais têm visto a eliminação da política “Não pergunte, não diga” como um grande objetivo de sua agenda. Agora, eles estão pertos de ver o cumprimento desse objetivo.
As campanhas deles têm sido muito auxiliadas por uma mudança documentada na compreensão do público acerca da questão. Dentro de um curto espaço de tempo, ocorreu uma mudança enorme nas atitudes do público. Embora reações a essa questão dependam muito de como a pergunta é feita, a oposição do público ao serviço de homossexuais nas forças armadas diminuiu de forma visível. Essa mudança é parte da transformação maior de valores morais em questões da sexualidade que ocorreu durante a década passada.
Por isso, agora que a plena normalização da homossexualidade nas forças armadas dos EUA está surgindo no horizonte diante de nós, será que estamos prontos para tudo o que isso significa? É quase certeza que não.
Há realidades enormes que compõem a natureza importante dessa mudança política. A primeira é a centralidade da identidade ou orientação sexual para a vida humana. A segunda é a enorme influência institucional e simbólica das forças armadas na vida americana. A terceira é a ameaça à liberdade religiosa representada pela normalização da homossexualidade nas forças armadas.

A Centralidade da Orientação Sexual — Fora do Armário é Identidade Pública

Nesse ponto, os profetas da revolução sexual estavam certos: a identidade e orientação sexual são importantíssimas para o senso de identidade pessoal de um indivíduo, e a pessoa pública de um indivíduo. Historicamente, exércitos têm lidado com isso normalizando a heterossexualidade e fazendo todo o possível para fundir indivíduos numa unificada força de combate. Nesse processo de formar coesão na unidade, os indivíduos são em grande parte despidos de suas identidades pessoais a fim de assumir a identidade exclusiva da unidade.
Escrevendo no começo da política “Não pergunte, não diga”, John Luddy, ex-oficial de infantaria dos fuzileiros navais, explicou como esse processo funciona:
O combate é um esforço de equipe. Para ganhar em combate, os indivíduos precisam ser treinados a subjugar seu instinto individual de auto-preservação às necessidades de sua unidade. Já que a maioria das pessoas não tem inclinação natural para fazer isso, o treinamento militar tem de demolir um indivíduo e remoldá-lo como parte de uma equipe. É por isso que os recrutas renunciam a seu primeiro nome e parecem, agem, se vestem e treinam iguais. Para parafrasear um velho instrutor de treinamento, o corpo de fuzileiros navais não é uma lanchonete — não dá para fazer as coisas do seu jeito.
A normalização da homossexualidade dentro das forças armadas não significa meramente o fato de que indivíduos que têm uma orientação homossexual não mais serão exonerados das forças armadas. Significa também que algo tão importante para a experiência e identidade humana como a sexualidade agora complica a situação. A presença de indivíduos assumidamente homossexuais nas unidades militares, nos alojamentos militares e na cultura militar muda a própria natureza da coesão da unidade. Além disso, muda a natureza das forças armadas como instituição. Para todas as complexidades de demolir a identidade individual a fim de construir uma identidade comum, um foco inevitável na orientação sexual agora inverterá a lógica inteira.
A revogação de “Não pergunte, não diga” em si não estabelece uma nova política abrangente. Como James Dao do New York Times relata, há muitas “questões espinhosas” que têm de ser decididas:
Soldados assumidamente gays serão colocados em alojamentos separados, como defendeu o comandante dos fuzileiros navais? Que benefícios, se é que há, os parceiros ou “cônjuges” de soldados homossexuais ganharão? Todas as unidades militares serão obrigadas a tratar os homossexuais como iguais? E que tipo de treinamento os oficiais heterossexuais e as tropas alistadas receberão para prepará-los para servir com soldados, marinheiros, aviadores e fuzileiros assumidamente gays?
Essas questões são apenas a ponta do iceberg no que se refere às “questões espinhosas” que qualquer nova política tem de regulamentar. O maior desafio que a normalização da homossexualidade representa dentro das forças armadas não é o fato de que indivíduos homossexuais servirão em uniforme. Considerando a distribuição da homossexualidade dentro da população, podemos estar certos de que o serviço corajoso de indivíduos homossexuais foi o caso desde o começo. O maior desafio será representado pelo fato de que a homossexualidade será agora assumida, com tudo o que isso significa em termos de identificação com a cultura e relacionamentos homossexuais. Como é que se define coesão da unidade depois dessa revolução moral?

As Forças Armadas dos EUA e a Condição da Cultura Americana

Desde o nascimento dos EUA, as forças armadas têm um lugar consagrado como instituição que forma a cultura. Nossa vida nacional é moldada por várias forças institucionais, mas poucas têm o poder que as forças armadas dos EUA têm. A admiração do público para com as forças armadas é reforçada pela realidade do controle civil sobre os militares, e o serviço uniformizado tem sido um meio importante de estabelecer a identidade e cultura nacional.
Os resultados dessa influência têm sido esmagadoramente positivos. A bem-sucedida integração racial das forças armadas foi indispensável para o movimento de direitos civis. As forças armadas têm preservado os valores nacionais da honra, coragem e serviço. Poucas instituições podem se comparar com a influência enorme das forças armadas na posição de moldar a cultura nacional.
É por isso que a normalização da homossexualidade dentro das forças armadas tem sido tal meta fundamental do movimento homossexual. As três barreiras institucionais mais importantes para a plena normalização da homossexualidade na sociedade são as forças armadas, as leis de casamento e as igrejas. Por esse motivo, todas essas três forças institucionais têm sido alvos diretos por parte daqueles que querem promover a plena aceitação da homossexualidade. Um foco nessas instituições é essencial quando se quer reconhecer a homossexualidade como em pé moral e cultural de igualdade com a heterossexualidade. Não há surpresa aí.
Deve-se reconhecer que a normalização da homossexualidade dentro das forças armadas dos EUA terá efeitos muito além das forças armadas. As mudanças mais imediatas aparecerão mais próximas onde os militares estão concentrados, tanto geográfica quanto culturalmente. Empresas que fazem trabalho para as forças armadas, indivíduos que oferecem moradia e muitos serviços para militares e outros similarmente conectados com os serviços armados serão os primeiros a ser obrigados a responder a esses efeitos e se adaptar à nova realidade militar. Daí, os círculos da influência militar se estenderão ao resto da sociedade de uma maneira ou de outra.
A rejeição da política “Não pergunte, não diga” não envolve só a questão militar — é por isso que há uma grande campanha direcionada para revogá-la.

Liberdade Religiosa — Convicção em Conflito com a Nova Cultura Militar

Entenda: a revogação da política “Não pergunte, não diga” representará uma ameaça clara e presente para a liberdade religiosa daqueles que vestem o uniforme americano, principalmente para aqueles que servem como capelães.
As forças armadas atuam sob um conjunto claro de normas e expectações. Quando a homossexualidade for normalizada nas forças, uma inteira rede interconectada de leis, regulamentos, ordens e políticas acabarão mudando também. Como entendem muito bem aqueles que estão promovendo a normalização da homossexualidade, qualquer política que cumpra esse objetivo necessariamente punirá os militares que não se adaptarem à nova expectação. Em outras palavras, haverá uma reversão automática da lógica militar predominante sobre a questão da homossexualidade. Atualmente, as forças armadas operam sob políticas que identificam a homossexualidade assumida como incompatível com o serviço militar. Com uma mera canetada aprovando uma lei, essa política não só será revogada, mas também será invertida. A homossexualidade será transformada de algo que é oficialmente “incompatível com o serviço militar” para uma realidade que deve ser protegida por leis e regulamentos sobre discriminação, avanço, promoção e cultura militar.
O que isso significará para aqueles nas forças armadas que crêem, baseados em suas sinceras convicções religiosas, que a homossexualidade é pecado? Defender ou expressar tal opinião será contrário à posição e políticas oficiais das forças armadas. Agora mesmo, empregados de muitas empresas no mundo civil se queixam de discriminação em promoção e avanço de carreira se, por exemplo, não concordam em colocar uma bandeira do orgulho gay em sua mesa de escritório durante o Mês do Orgulho Gay. Não é que eles se recusem a trabalhar e cooperar com colegas homossexuais, mas eles não podem celebrar a homossexualidade em si. Só espere até essa lógica atingir as forças armadas.
E quanto aos capelães militares? O que eles terão permissão de dizer e ensinar sobre a homossexualidade? O que eles farão, por exemplo, quando um soldado cristão vir em busca de aconselhamento sobre suas lutas contra a tentação homossexual? Como é que um capelão que veste uniforme militar poderá aconselhar que o que as forças armadas dizem que é normal e sem importância moral é o que a Bíblia, apesar disso, declara que é pecado?
As liberdades religiosas de milhões de americanos uniformizados serão colocadas em perigo imediato com a normalização da homossexualidade nas forças armadas — e essas são as próprias pessoas que estão colocando suas vidas em grande risco para preservar essas liberdades para outros.

No Precipício de uma Vasta Mudança Cultural

A revogação da política “Não pergunte, não diga” representa uma imensa mudança cultural para os EUA, e uma mudança que virá com inúmeras conseqüências. A revogação da política não significará o fim das forças armadas, mas significará forças armadas bem diferentes. Considerando as circunstâncias e compromissos exclusivos da vida militar, significará uma mudança inevitável nos perfis das pessoas que se alistam e escolhem se realistar nas forças armadas. Significará que pessoas fiéis a uma posição bíblica da sexualidade humana terão muito menos probabilidade de se alistar nas forças armadas, principalmente se alistar para funções de capelães. Os americanos reconhecem o que isso significa? Será que eles estão prontos para forças armadas que foram abandonadas por aqueles que crêem que a homossexualidade não é o equivalente moral da heterossexualidade? Será que eles consideraram o que isso significa para o recrutamento militar?
Será que eles estão realmente prontos para uma mudança política que signifique que só esquerdistas teológicos serão bem-vindos como capelães?
Não há precedente para tal enorme mudança na vida das forças armadas — nenhum. Pela primeira vez, grupos definidos pela identidade sexual e conduta sexual se tornarão classes protegidas dentro das forças armadas dos EUA. Isso não é meramente uma possibilidade; se a homossexualidade for normalizada dentro das forças armadas, é uma inevitabilidade.
Os cristãos deveriam avaliar tudo o que isso representa e reconhecer o que está em jogo. Poucas mudanças na política das forças armadas afetarão tantas pessoas e representarão desafios tão diretos às convicções cristãs e à liberdade religiosa. A normalização da homossexualidade nas forças armadas afetará nosso inteiro campo de ministério e missão.
A menos que algo altere o contexto político, a política “Não pergunte, não diga” está para se tornar coisa do passado, e as forças armadas dos EUA estão para ser transformadas para sempre. O verão de 2010 poderá bem se revelar como uma estação decisiva na vida e história dos EUA. Será que alguém está prestando atenção?
Este artigo foi reimpresso com permissão de www.albertmohler.com
Traduzido por Julio Severo: www.juliosevero.com
Veja também este artigo original em inglês: http://www.lifesite.net/ldn/viewonsite.html?articleid=10060708
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